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“Opika Pende” e a arqueologia da música africana

Fernando Kaida

O selo norte-americano Dust-to-Digital é especializado em recuperar gravações raras do começo do século 20 de diferentes partes do mundo, principalmente de discos de 78 rotações, para lançá-las em edições caprichadas.

Uma das novidades do catálogo é a caixa de quatro discos ''Opika Pende: ''Africa at 78 rpm'', que faz um apanhado de 100 gravações de diferentes países da África entre 1909 e meados dos anos 1960. Registradas originalmente em discos de goma-laca, nenhuma das faixas havia sido lançada em CD até agora.

Entre as gravações estão canções folclóricas, cantos religiosos, gravações de corais e músicas populares que remetem a gêneros mais familiares, como o jazz e calypso, de países como Gana, Marrocos, Etiópia, Nigéria, Egito, Congo, África do Sul e Uganda. A variedade de estilos, épocas e qualidade de gravações é surpreendente.

O trabalho de arqueologia é completo. Além dos quatro discos, a caixa traz um encarte de mais de 100 páginas com informações sobre cada uma das faixas e seus intérpretes. O responsável pela empreitada é o pesquisador e colecionador Jonathan Ward, que mantém um site totalmente dedicado aos discos de 78 rotações, o excavatedshellac.com.

''Opika Pende'', que na língua lingala pode significar ''seja forte'' ou ''resista'', não é o tipo de material para se ouvir a toda hora, em qualquer lugar. Cada audição é como ser transportado para um mundo que talvez nem exista mais em boa parte do continente, em uma viagem imperdível para ser aproveitada sem pressa.

Raïs Mohamed Sasbo – Ghina' Loziq (Marrocos)

 

Calender and His Maringar Band – ''The Jambo Song'' (Serra Leoa)

 

Stonik and Kiprono – ''Molildo Kiruk-Yuk'' (Quênia)

 

Transvaal Rockin' Jazz Stars – ''Swaziland'' (África do Sul)